
Eu sou TonhaFerreira — ou, como dizem lá em Minas, Thonhafé!
Sou Maria Antonia Ferreira, mineira da antiga fazenda Estiva, em Araújos. Filha de lavrador e costureira, aprendi desde cedo a ser livre — e assim sigo sendo.
Caminhava léguas para chegar ao grupo escolar, muitas vezes com os pés sujos de barro, e mesmo assim sonhava. Num piscar de olhos, pulei da roça para o ofício da lapidação de pedras — ainda menina. O dia de amanhã, aprendi, é sempre imprevisível.
Parti para Belo Horizonte e, com coragem, cursei História. Descobri na sala de aula a arte de ensinar e aprender, e ali tirei o cobertor que me escondia.
Como professora, aprendi que o conhecimento floresce melhor quando nasce da liberdade. Junto dos meus alunos, plantei hortas, criei histórias, letras, músicas e peças. Eles se sentiam parte de tudo — e eu também. A mágica da educação me fez compreender: viver é criar, e criar é transformar.
Quando o corpo pediu pausa, veio o novo chamado: a arte de viver através da pintura, da escrita, do transgredir. Adoeci, renasci.
Troquei o giz pelo pincel e, com simplicidade, deixei a vida fluir — como a água que corre porque é da sua natureza correr.
A vida em delírio
Nunca segui uma filosofia de vida com regras ou normas.
Tudo acontece — e sempre aconteceu — como um passe de mágica. Desde menina vejo o que não pode ser visto, e talvez por isso tenha sentido medo de ser eu mesma. Mas o medo também é matéria-prima da coragem.
Casei, descasei, recomecei. Três vezes mãe, uma vez avó. Encontrei-me e ainda me encontro brincando, experimentando, sendo. Hoje compartilho a vida com minhas filhas, minha neta e um companheiro que entende — comigo — que a arte é o modo mais puro de viver.
Sou mãe, avó, professora, escritora, pintora. E assim me considero. Vivo por uma lógica subjetiva, uma métrica sem métrica, uma forma sem forma. As ideias surgem e eu as deixo vir — saltam como mágica para o papel, para a tela, para o mundo.
Acredito na transmutação do ser.
Sou o espelho das minhas criações — ou talvez, apenas lampejos do que vive escondido dentro de mim.
“Liberta-te e serás liberto. Seja sempre você mesmo, mas não seja sempre o mesmo.”


A casa, a arte e o caminho
Morei muitos anos no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte — a famosa Casa dos Artistas.
Um lar aberto à música, ao teatro, à poesia e à dança. Foi lá que nasceu o projeto Arte no Solar Thonhafé, onde artistas se encontravam para apresentar e criar.
Dali germinou a Famiféartes e o grupo musical Café Apoena, com o compositor Hivanir Lopes, que musicou meus poemas dos cadernos Delírios do Corpo, da Mente e da Alma. Tivemos o apoio da violoncelista Larissa Mattos, que se uniu a nós em arranjos e composições.
Hoje, eu e Hivanir seguimos itinerantes — levando a arte para onde o povo está. Pelas praças, avenidas, viadutos e caminhos desse mundão divino, espalhamos o encanto e a poesia do viver.
A arte de transmutar
O que escrevo e pinto são desabafos, gritos de gratidão e resistência — suspiros pela arte de viver. Busco o brilho das flores, a beleza de ser, apenas ser.
Na simplicidade da arte de brincar, desmoralizo a moral, desmitifico os mitos, descoloro as cores e reinvento as formas.
Eu sou o que sou. Tirei o cobertor.
Luz violeta e dourada no coração de todos.
Resistência Pura.